Dra Rafaela Rolim, Pediatra, CRM 22625
Uso de repelentes em gestantes e crianças: contra a
epidemia do Zika vírus
Estamos
vivenciando uma situação emergencial no nosso país que é a infecção pelo Zika
vírus. Esta doença viral é transmitida por um vetor, o mosquito Aedes aegypti, e quando este pica o
homem pode causar: infecção assintomática, doença febril exantemática ou
complicações graves como Síndrome de Guillain-Barré e microcefalia em fetos de
gestantes infectadas. No momento, a única solução para controlar o aumento do
número de casos da doença é o combate do mosquito transmissor através da destruição
de seus criadouros e proteção com repelentes contra esses vetores que ainda
estão em circulação, com atenção especial de cuidados em gestantes e crianças.
Medidas físicas de proteção
Roupas: devem ser compridas,
de cor clara e de tecido grosso. Janelas:
fechadas nos períodos do nascer e o pôr do sol. Mosquiteiros/telas: com poros menores que 1,5mm.
Permetrina 0,5-1%: usado sobre roupas, telas e mosquiteiros. Perfumes: evitar, pois o cheiro atrai o
mosquito. Velas: andiroba e
citronela nos ambientes fechados.
Inseticidas: sprays, serpentinas, aerossóis ou impregnados em roupas
conforme orientações do rótulo. Terreno/casa:
limpeza e retirada de reservatórios de água parada.
Repelentes tópicos
No Brasil, temos
disponíveis os seguintes repelentes tópicos: DEET, Icaridina, IR3535 e óleos
naturais. Nenhum deles é liberado em crianças menores de 6 meses.
DEET (Off, Repelex, Autan, Xô inseto)
É o repelente
sintético mais antigo sendo comercializado nos Estados Unidos (EUA) desde 1956
e possui o maior número de estudos em relação à segurança e toxicidade.
Em gestantes, os
estudos demonstram que o DEET consegue atravessar a placenta e pode ser
utilizado com segurança nos 2º e 3º trimestres de gravidez em concentrações de
20 a 30%. Não existem estudos que liberem o uso do DEET em humanos no 1º
trimestre, entretanto o Center for Disease Control and Prevention (CDC)
recomenda o uso deste repelente por gestantes, uma vez que a Enviromental Protection
Agency (EPA), responsável pela autorização de uso destes produtos nos EUA, não
estabelece nenhuma restrição nesse sentido. O Ministério da Saúde do Brasil e a Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) também não fizeram nenhuma restrição na nota
técnica publicada em 26 de novembro de 2015 sobre o uso de repelentes em
gestantes.
Em
crianças, a concentração máxima permitida em diversos países é controversa. Por
exemplo, a Academia Americana de Pediatria (AAP) permite o uso de até 30% de DEET
em maiores de 2 anos, autores franceses sugerem essa mesma concentração para
uso em crianças de 1 ano e 6 meses a 12 anos e a Sociedade Canadense de
Pediatria (SCP) preconiza produtos com até 10% para crianças entre 6 meses e 12
anos. No Brasil, a liberação por faixa etária também depende da concentração da
substância e é mostrada na tabela abaixo.
Icaridina (Exposis)
Repelente novo e promissor, derivado da pimenta, indicado
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para viajantes juntamente com o DEET. É
considerado de 1,1 a 2 vezes mais potente que o DEET no combate ao Aedes aegypti. Poucos efeitos colaterais
relatados, poucos estudos sobre segurança e toxicidade.
Em
crianças, a liberação por faixa
etária depende da concentração da substância e é mostrada em tabela abaixo.
IR3535
(Loção anti mosquito Johnson)
Disponível na Europa há mais de 20 anos. Eficaz
contra Anopheles e Aedes na
concentração de 20% por um período de 4 a 6 horas. O tempo de proteção contra o
Aedes aegypti foi similar ao DEET
(cerca de 3 horas) com fórmulas a 10-20% em ambos os repelentes.
Em
gestantes, pode ser utilizado com segurança. Único que vem descrito na bula que
é permitido para grávidas.
Em
crianças, é liberado na França somente em crianças maiores que 2 anos e 6 meses
e, no Brasil, é permitido em maiores de 6 meses.
Óleos
naturais
São os mais antigos repelentes conhecidos e parecem ter eficácia
razoável. São altamente voláteis e protegem por pouco tempo. Sem estudos em
gestantes.
-Óleo de eucalipto-limão 30% é comparável ao DEET a 20%, sendo o
mais efetivo dos óleos naturais. Protege por até 5 horas. Não é recomendado
para crianças menores que 3 anos.
-Óleo de soja a 2%: confere proteção contra o Aedes por quase 1 hora e meia.
-Óleo de citronela 5-15%: evapora muito rápido, fornece proteção
muito curta. Tem que ser reaplicado a cada 1 hora.
Tabela
de repelentes comercializados no Brasil
Stefani GP, et col
Como usar repelentes
Stefani GP, et col
Referências e Leitura complementar:
Stefani GP, Pastorino AC, Castro APBM,
Fomin ABF, Jacob CMA. Repelentes de insetos: recomendações para uso em
crianças. Rev Paul Pediatr. 2009; 27(1):81-9. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rpp/v27n1/13.pdf.
Acesso em: 03 de novembro de 2015.
Koren G, Matsui D,
Bailey B. DEET-based insect repellents: safety implications for children and
pregnant and lactating women. CMAJ. 2003;
169(3):209-12. Publicado em www.cmaj.ca em July 15, 2003. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC167123/.
Acesso em: 01 de dezembro de 2015.
McGready R et al.
Safety of the insect repellent n, n-diethyl-m-toluamide (deet) in pregnancy.
Am. J. Trop. Med. Hyg. 2001; 65(4):285-9. Disponível
em: http://www.ajtmh.org/content/65/4/285.long.
Acesso em: 01 de dezembro de 2015.
Uso de repelentes em crianças. Sociedade
Brasileira de Pediatria. Kerstin Taniguchi Abagge, Jandrei Rogério
Markus. Disponível em : http://www.sbp.com.br/src/uploads/2012/12/Repelentes-2015.pdf.
Acesso em 09 de dezembro de 2015.
Nota Técnica Ministério da Saúde sobre o
uso de repelentes na gravidez. http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2015/novembro/26/Nota-T--cnica-2015-Uso-de-repelentes-cosm--ticos-durante-a-gravidez.pdf.
Acesso em: 01 de dezembro de 2015.
Pregnant Travelers. Disponível em: http://wwwnc.cdc.gov/travel/page/pregnant-travelers.
Acesso em: 01 de dezembro de 2015.
Insect Repellent Use & Safety.
Disponível em: http://www.cdc.gov/westnile/faq/repellent.html.
Acesso em: 01 de dezembro de 2015.
Repelentes de insectos. Centro de
informação do medicamento. Ana Paula Mendes. Disponível em: http://www.ordemfarmaceuticos.pt/xFiles/scContentDeployer_pt/docs/doc7007.pdf
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